segunda-feira, setembro 28, 2020

Histórias pela metade

Fez tanto frio aquela noite, mal dava pra acreditar que ainda era verão, não sei se a estação sensibilizada com minha dor, dedicou-se a mudar só por aquela noite como quem diz eu sei, ou apenas azar de amor mal resolvido que volta pra casa num dia quente de verão e passa frio na madrugada só pra lembrar como é bom ter alguém pra dividir o cobertor.

Cada minuto daquela noite me pareciam intermináveis horas, na minha mente, um turbilhão de pensamentos e sensações que me tiravam o ar, a falta dele logo me lembrava a falta de você, e doía, doía saber que aquela seria a primeira de uma sequência de noites que eu teria que lutar contra essa vontade incontrolável de te ligar. É que eu me acostumei a escutar sua voz doce antes de dormir e com ela rouca ao acordar.

As manhãs seguintes me cobravam a falta de você e eu sem querer dar respostas, apenas me contentava com a ideia fixa de que na vida algumas histórias simplesmente ficam pela metade, por mais que eu soubesse que existia amor demais pra ter assim só tão pouco de nós pra recordar, parece que nada me parecia ser capaz de mudar essa situação.

Eu nem sei como foi que aconteceu, nem sei dizer porque a nossa história ficou assim pela metade se a gente sempre sonhou com um final feliz, eu nem sei quando foi que você foi embora. Me recordo de todos os planos que a gente fez, de todas as vezes que a tua risada me fazia pensar na sorte que eu tinha em ter você, do teu braço arrepiado com meu toque, do seu olhar meio sem graça, mas com um desejo faminto que me devorava todo. Dos teus lábios nos meus, da tua boca quente e macia e da eternidade que eu sempre encontrei no teu abraço.

Eu assumi que te amava aquela tarde no portão, preso em teu abraço pensando quando seria o dia que eu iria ver você de novo sem se preocupar em ir embora, eu ali tão longe de casa, me encontrei dentro daquele abraço e tive a certeza de que era ali o meu lugar. Eu quis adiantar o futuro, apressar o relógio, viajar no tempo só pra ver se no futuro você ainda era parte da minha história, na pressa de te ter na minha vida eu nem percebi quando você foi embora, enquanto eu imaginava como seria.

Não sei como foi que acordei aqui escrevendo sobre mais uma noite que se vai e o quanto é frio sem você aqui, eu não sei quando foi que a gigantesca máquina de escrever da vida resolveu dar uma pausa na nossa história, eu não sei porquê, eu só sei que as vezes as histórias apenas ficam pela metade e nem sempre é responsabilidade nossa, aliás, eu não sei. Enquanto eu escrevo mais uma noite vem vindo e eu fico perguntando se depois dessa metade tem final...




quarta-feira, setembro 23, 2020

Sobre o amor que não é pra ser...

Dia desses de bobeira pelo Instagram eu vi uma postagem que dizia que todo mundo na vida já teve um amor que não deu certo, pra ser mais exato; todo mundo já amou demais alguém que não pôde ficar junto... É estranho admitir que você já quis muito alguém, pior ainda pensar que não deu certo e mais, é absolutamente incontrolável não pensar a respeito com a sensação de que faltou alguma coisa... Mas a real é será que foi algo que não fiz, ou que fiz, ou simplesmente nessa vida como a trágica frase diz; todos estamos destinados a um dia amar o que jamais teremos? 

Talvez eu nunca tenha tal resposta, ainda que viva no desespero de encontrá-la, devo admitir que toda forma de amar é mesmo incrível, mas amar o que não se pode ter é como perder o ar enquanto se luta com a necessidade absurda de se respirar, é como perder a fala quando se mais precisa de respostas, é como tomar o seu último Yakult com toda pressa do mundo e ver que seus amigos guardaram o deles pra mais tarde, enfim amar assim é dor que não se cura, ferida sem causa? Sei lá, não se sabe nunca a causa do porque se ama a quem não se pode amar... Eu amei alguém, amei em um dia comum, ensolarado, amei desde o dia em que eu admiti que ela me desconcertava, amei desde a hora em que meus olhos a viram e prossegui amando desde que a vida com ela me pareceu uma possibilidade mais que certa.

Eu prossegui amando com uma vontade maluca de dizer que eu perdia o ar toda vez que ela sorria, que meus olhos marejavam ao pensar em uma  vida minha que não fosse dela. Tudo nela me parecia tão melhor que tudo em qualquer outro alguém, eu jamais saberei dizer se concordo com a frase ou se admito que tudo dá certo enquanto dura, e que dura o tempo que tem pra durar, mas juro feito um religioso aflito que nunca na vida queria amar assim, por hora me contento com o fato de vê-la bem, ver ela sorrir é o que me mantém.