sábado, maio 21, 2011

Ricardo Gondim

Um caso de amor


Ricardo Gondim





À medida que amadureço (sim, um eufemismo para envelheço) descubro um novo amor: a literatura. Desde meus verdes anos, testemunhei meu pai sempre com um livro na mão. E desde que me entendo por gente, nunca negligenciei o hábito de ler. Porém, devido a minha vocação pastoral, por longos anos debrucei-me apenas sobre livros teológicos, filosóficos. Encarei-os como instrumentos que me auxiliariam a exercer bem minhas atividades; eu precisava fundamentar o meu ministério. Passei anos sem ler um

romance, uma novela. Poesia, nem pensar.



Pouco antes de completar 40 anos, percebi que conhecia pouquíssimo de literatura brasileira, e que a maioria dos autores não passavam de pessoas famosas da história. Sem ter folheado uma obra de José Lins do Rego ou Rachel de Queiróz, eu sabia nomear apenas alguns livros de Machado de Assis e Jorge Amado. Resolvi abrir “Fogo Morto”, de José Lins do Rego, e encantei-me com o regionalismo de sua pena -- já devorei quase toda a obra do Zé Lins. Logo, vi-me sedento. De uma sentada li “O Quinze”, que Rachel de Queiroz escreveu ainda adolescente, deitada de bruços no mosaico frio da sala de sua casa. Aquiesci. Minha antipatia por Graciliano Ramos era sem motivo.





“Vidas Secas” havia sido reduzido por mim a uma tarefa escolar odiosa no “ginásio”. Reli a obra prima e depois tudo o que ele produziu. Confesso, viciei-me em literatura. Parece que minha paixão veio em cascata, não consigo mais parar. A pena de autores fenomenais me deslumbra.





Ainda procuro não me distanciar dos livros técnicos, lógicos, com pensamentos bem estratificados. Porém, minha nova paixão está na literatura. Quando terminei de ler “Os miseráveis”, de Victor Hugo, suspirei e disse em voz alta: -- Não acho justo que alguém passe pela vida sem ter lido esta obra, que é um libelo sobre perdão, graça e amor. Seu personagem, Jean Valjean, talvez seja uma das mais belas representações de Jesus Cristo.



De igual modo, encantei-me com “Crime e Castigo”, de Dostoievski. Em uma

Rússia miserável, o livro flui de um pessimismo -- que trata homens e mulheres

comuns como “piolhos” -- para a redenção, só possível no amor.



Eu poderia mencionar o elenco que me embasbacou nesses últimos dez anos: Alexandre Dumas, Mario Benedetti, Mia Couto, John Updike, Franz Kafka, Miguel Torga, Lev Tolstói, Albert Camus, Gabriel Garcia Márquez, Thomas Mann, Philip Roth, J. M. Coetzee, Milan Kundera, Sándor Márai, Primo Levi, João Ubaldo Ribeiro e tantos outros.



Com a literatura aprendi que posso viajar pelos meandros da alma humana.



Descer até os porões escuros da maldade e reconhecer a extensão da iniquidade que se universalizou. Acompanhar o caminho de heróis e heroínas e também reconhecer que a imagem de Deus foi graciosamente distribuída por toda a humanidade. Machado de Assis trabalha seus personagens sem dourá-los com lantejoulas falsas. Bentinho e Capitu, bem como outros protagonistas, ficaram parecidos com personagens bíblicos, com sombras e luzes.



Com a literatura aprendi a desdobrar a vida para além das engrenagens do dia-a-dia. Mundos fantásticos, como o de Gabriel Garcia Márquez, são criados para que possamos sonhar para além da realidade crua. Essa capacidade de sonhar, tão comum entre os profetas, nos leva à inconformidade com o mundo do jeito que é. Os profetas narram cenas em que leão e boi pastam juntos e crianças enfiam a mão na toca das serpentes para que nos mobilizemos na direção dessa utopia. O que existe pode ser mudado de acordo com outra maquete. Quem viu outra realidade, mesmo em sonho, passa a desejá-la.



Com a literatura aprendi como é importante sair dos pensamentos concretos e abstrair. Sutilezas da linguagem metafórica passam batidas por quem só sabe pensar no rigor da letra. Jesus tentou comunicar-se com Nicodemos, mas ele não adquirira essa sensibilidade no treinamento de fariseu. Era simplório interpretar a ideia de nascer de novo como voltar ao ventre da mãe.



Com a literatura aprendi que a vida não pode ser avaliada pelos critérios de desempenho que passaram a vigorar no pragmatismo ocidental. O imensurável da alma humana não tolera ser confinado a desempenho, eficácia ou mérito. Ao ler duas obras de Tolstói, “A morte de Ivan Ilitch” e “Anna Karenina”, despertei-me para o valor do tempo, das relações humanas e, principalmente, do cuidado que devemos ter com o universo de subjetividade que é a alma humana.



Com a literatura aprendi a amar a Bíblia. Antes, eu fazia das Escrituras um

manual de “verdades práticas que deveria saber usar proveitosamente”. Só agora aprendo a vê-la como uma coleção de textos em que o Espírito Santo comunica o amor de Deus. A Bíblia é uma carta amorosa de Deus. Portanto, sem a pretensão de fazer análise gramatical ou dissecação das palavras, deixo-me inundar pelas narrativas, conceitos, princípios, poesia, ensinos.



Tento meditar, numa mastigação lenta, nas mensagens que me animam, exortam, consolam. Deixo-me vazar pelo inaudível até que o coração capte o que ficará obscuro se eu me apressar. Leio e releio com o desejo de me render à sabedoria, à beleza e à verdade do maior de todos os autores: o meu Senhor.



Soli Deo Gloria



20-05-11

sexta-feira, maio 20, 2011

...Fernando pessoa...

"....Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos.Às vezes usa o cansaço, para que possamos Compreender o valor do despertar.Outras vezes usa a doença, quando quer Nos mostrar a importância da saúde...."(Fernando pessoa)

quinta-feira, maio 19, 2011

De fato...

É de fato um dia percebemos que o melhor não é o que desejamos a vida inteira mais nunca alcançamos... Percebemos que lutamos demais, nos desgastamos demais, crises, choros e ate certo riso meio disfarçado, percebemos que muito arriscamos que por muitas vezes nos sentimos frustrados. É de fato percebemos que na maioria das vezes pensando em ser feliz machucamos o nosso coração e com isso acabamos por machucar o de quem tanto nos ama, é de fato um dia percebemos que tudo que fizemos foi porque gostávamos demais ou amávamos demais para desistir, mais tornamo-nos insensíveis machucamos sem desejar ser machucados por ninguém, é de fato percebemos o quanto fomos individualistas ao perguntamos o porquê nunca aconteceu? Porque de fato eu não fui feliz? Na verdade só era preciso abrir os olhos, pois a felicidade sempre esteve presente...


É de fato um dia perceberemos que os amigos por mais chegados que sejam um dia vão nos deixar, e então vamos nos dar conta de quanto tempo perdemos com frieza, ignorância, falta de perdão e rancor. É de fato perceberemos que por mais que queiramos retroceder e fazer tudo diferente não adianta mais agora os velhos amigos são só lembranças do passado.

É de fato um dia agente cresce e percebe que não são só nossos pais que são velhos e parecem não ter amigos, ou porque nunca o vimos com um amigo de infância, mais que como o tempo passou pra eles, passou pra nós também. É de fato percebemos que a cena outrora vivida com nossos pais será revivida conosco onde fotos será a única forma de nos aproximar de pessoas amadas e tão queridas.

É de fato percebemos um dia que tudo passa e que por mais firme que sejamos por mais constantes, amovíveis, e de certa forma apático às mudanças, elas um dia chegam, e só assim percebemos o quanto tempo gastamos com nossos próprios interesses do que com pessoas que nos amam, só assim percebemos o quanto gastamos tempo nos dedicando a pessoas erradas quando a certa sempre esteve por perto. É de fato um dia percebemos que podemos viver e viver e no fim das contas não ser feliz...

É de fato um dia percebemos que além de pedir carinho, amor, respeito e compreensão devemos nos dedicar a oferecê-los, um dia então agente aprende que não adianta apenas realizações pessoais, que não adianta sucesso pessoal, profissional, financeiro se no fim das contas estivermos sós.

É de fato um dia agente aprende que a vida foi feita para ser compartilhada, um dia agente percebe que podemos não ser completamente realizados, podemos de fato não mudar o mundo mais pelo menos houve nossa parcela de contribuição. É de fato um dia agente lembra tudo isso e quem sabe não começa a valorizar o simples fato de amar e ser amado, de respeitar e ser respeitado, o simples fato de poder respirar, ter saúde e saber que independente da situação existem pessoas que estarão sempre conosco mesmo que só em recordações.



É de fato um dia agente aprende e corrige só não quero que seja tarde demais...



William Longo

Soli deo Gloria

sexta-feira, maio 13, 2011

Hoje o meu Pensar (Religião=Escravidão)

Encontro – me tristonho a pensar sobre a vida de uma forma a qual nunca pensei na verdade no momento em que vivemos no meio em que vivemos o pensar é sempre uma grande saída. A quem ouse e se arrisque a enfrentar opiniões alheias sem medo algum de reprovação, a quem ainda ouse desbravar – se, colocar- se em posições arriscadas para defender o que de fato acreditam, quando inúmeras pessoas tomadas por suas crenças, quando grandes denominações tomadas por nada menos que seus rituais fálicos se opõem a essa verdade, tentando de fato aprisionar a mente daqueles que acreditam em um sistema religioso que de algum modo maquinalmente aprenderam. Muita coisa então entra em atrito, pessoas são forçadas a acreditar em um sistema barato de utopias, pessoas são iludidas e quando tentam demonstrar o seu lado humano, e de usar o seu senso critico são logo barrados e tachados como loucos, hereges e opositores as verdades que não passam de meras ilusões, que pertencem a um sistema fálico e barato de aprisionamento.
Na verdade me encontro a refletir sobre esse movimento religioso, legalista, e preconceituoso que tem encabrestado a muitos, prendendo – os a uma falsa maneira de viver, prendendo – os
A uma falsa onipotência, levando os a acreditarem, que estão acima de tudo, que são imunes a sofrimentos, que as crises na verdade não existem, que não passam de ciladas do inimigo que os problemas conjugais, familiares, existências podem ser resolvidos de uma forma simples usando as palavras mágicas, eu rejeito, sai eu não aceito, ta repreendido, levando os a crer que  não ficam doente, que se alguém disser que precisa de um psicólogo, esse deve estar atormentado por algum espírito imundo e deve imediatamente ser repreendido e exorcizado.
Meu Deus que visão é essa, que fé é essa?
Recuso - me acreditar que faço parte desse gueto recuso-me a acreditar que pessoas se preocupam mais com o dinheiro do que com os corações que precisam ser restaurados, fico perplexo, consternado em ver o quanto pessoas tem coragem de dizer tantas coisas em nome da crença, da religião, da fé sem sequer se responsabilizarem pelo que esta sendo dito.
Seria cômico se não fosse à realidade...
De fato eu só queria acreditar que de alguma forma de algum jeito as pessoas iram acordar entender a verdade aceitar e não ter medo de “pensar” de defender suas idéias e valores, de desejarem viver como ele viveu...
De desprender se de um sistema fálico e religioso que a todos dá mais a ninguém salva e possa voltar a oferecer o que o Galileu oferecia alivio para os corações contritos e certeza de sofrimentos e crises mais também de um companheiro em todas as horas.
Soli deo Gloria.
William R Longo